- </hype>
- Posts
- </hype> Quando times de tecnologia viraram um mal necessário?
</hype> Quando times de tecnologia viraram um mal necessário?
.join("Docker anuncia o MCP Catalog e Toolkit, prometendo revolucionar como descobrimos e utilizamos ferramentas MCP.")

sudo apt-get update |
TL;DR
Estava rolando meu feed do LinkedIn essa semana quando me deparei com mais um daqueles posts apocalípticos sobre profissões em extinção. Dessa vez, a "vítima" era o cargo de CTO. O autor, com a confiança típica dos futurologistas de internet, cravava: "O cargo de CTO vai morrer. A nova geração de empresas não precisa mais de alguém pra 'construir', precisa de alguém pra orquestrar."
Nada contra visões ousadas, mas é impossível não refletir: quando foi que nós, desenvolvedores e profissionais técnicos, viramos um "estorvo" que as empresas sonham em eliminar? Em que momento a expertise virou um mal necessário, caro e descartável?
Tu tem noção de que existem mais de 36 mil artigos no LinkedIn com variações do tema "X vai morrer" ou "o fim do cargo Y"? Se cada profissão que foi declarada "morta" nos últimos cinco anos realmente tivesse desaparecido, estaríamos todos desempregados e a economia mundial teria colapsado. Ou não?
Estamos cavando nossa própria cova
Sejamos brutalmente honestos: estamos assistindo à desvalorização da expertise técnica em tempo real, e o pior, todos nós (inclusive desenvolvedores) temos parte nisso.
O cenário é surreal: empresas dependem cada vez mais de tecnologia para absolutamente tudo, mas quem realmente entende os sistemas por trás disso tudo virou um "mal necessário". Um custo alto que, se tudo der certo, logo será substituído por prompts bem escritos ou ferramentas no-code.
Como chegamos aqui? De um lado, temos desenvolvedores que passaram a valorizar a superficialidade em detrimento da profundidade. Muitos acreditam que não precisam realmente entender como as coisas funcionam - basta decorar respostas de LeetCode, copiar snippets de Stack Overflow e seguir tutoriais "getting started" rasos.
O conhecimento técnico profundo foi substituído por uma abordagem fast-food: vídeos de 60 segundos para gerar dopamina, resumos sintéticos que prometem dominar tecnologias complexas em semanas, dicas e truques que substituem fundamentos. Como bem apontou Lucas Montano neste vídeo, caímos numa espiral de meta-conteúdo: vídeos sobre como fazer vídeos, posts sobre viralizar posts, threads sobre criar threads. Um ecossistema de superficialidade que gira em círculos.
Pior: perdemos a conexão entre tecnologia e negócio. Discutimos frameworks, linguagens e ferramentas como fins em si mesmos, ignorando o impacto real no resultado da empresa. Observamos isso claramente nos debates intermináveis sobre "Qual framework é melhor?" ou "React vs Angular", quando as perguntas reais deveriam ser: "Como essa tecnologia resolve o problema de negócio?" ou "Qual o retorno sobre investimento desta arquitetura?".
O resultado? Uma geração de devs que sabem todas as sintaxes da moda, mas não conseguem explicar como seu código afeta o caixa da empresa. Desenvolvedores que dominam detalhes técnicos como event loops e algoritmos complexos, mas não sabem como esses conhecimentos se traduzem em valor para o cliente ou receita para a empresa. Estamos criando profissionais tecnicamente competentes, porém desconectados do valor real que a tecnologia deveria entregar.
E, sejamos sinceros, nós mesmos reforçamos esse estigma. Quando usamos jargões incompreensíveis em reuniões, ou recusamos qualquer solução que não seja tecnicamente perfeita, reforçamos a imagem do "estorvo". Tipo uma masturbação digital onde quem chega ao orgasmo é o nosso EGO, tecnicamente impecáveis, enquanto o resto da sala só pensa em como seria bom ter alguém que traduzisse aquilo em decisões práticas.
Mas isso é apenas metade da história. Do outro lado da equação, temos uma cultura corporativa que contribui igualmente para essa desvalorização:
Lideranças sem alfabetização técnica: Muitos executivos tomam decisões sobre tecnologia sem entender seus fundamentos ou complexidades. Como esperar valorização da expertise quando quem decide nem sequer compreende o que está sendo entregue?
Cultura de "resultados imediatos": Empresas adotaram uma lógica de produto que privilegia entregas rápidas sobre qualidade e sustentabilidade. Times técnicos são vistos como "bloqueadores" quando apontam riscos ou necessidade de investimento em infraestrutura.
Reducionismo financeiro: A tendência de transformar questões técnicas complexas em simples linhas em planilhas de custo. Desenvolvedores sênior são vistos apenas como "recursos mais caros" que podem ser substituídos por juniores ou automação, ignorando o impacto da experiência na qualidade do produto final.
Fetiche pela inovação superficial: Uma obsessão por adotar qualquer nova tecnologia sem análise crítica, apenas pelo status de "inovador". Organizações implementam IA para tarefas que não precisam dela, enquanto negligenciam investimentos em fundamentos técnicos sólidos.
Esta desconexão entre desenvolvimento técnico e necessidades de negócio criou um terreno fértil para 'soluções mágicas' como a IA generativa. E assim chegamos ao absurdo da situação atual: Por que preferem código de IA inseguro a profissionais técnicos?
Por que preferem código de IA inseguro a profissionais técnicos?
Tu tem noção que hoje muitas empresas preferem arriscar com código gerado por IA, mesmo sabendo dos riscos, do que lidar com profissionais técnicos?
Dados concretos sobre riscos
Quase metade do código gerado por IA tem falhas críticas Um estudo do Center for Security and Emerging Technology (CSET) analisou cinco dos principais modelos de geração de código e encontrou falhas de segurança em 46,3% dos trechos criados por IA. Entre os problemas: injeção de SQL, XSS e exposição de dados sensíveis.
Desenvolvedores usando IA escrevem código menos seguro – e mais confiantes Pesquisadores da Universidade de Stanford mostraram que devs que usam ferramentas como Copilot ou ChatGPT produzem código 32% mais inseguro do que quem não usa IA. O mais preocupante: esses mesmos devs se sentem 27% mais confiantes de que seu código está seguro, mesmo quando não está.
Interrupções semanais e prejuízos reais O CEO da Sonar relatou à TechRepublic que empresas do setor financeiro estão sofrendo, em média, uma interrupção por semana em sistemas críticos devido a código gerado por IA. Muitas dessas falhas passam despercebidas por revisões superficiais, mostrando o risco de confiar cegamente em automação.
A ameaça do "slopsquatting" Pesquisadores identificaram o fenômeno do slopsquatting: modelos de IA frequentemente sugerem bibliotecas e pacotes que nem existem. Isso abre portas para ataques, já que hackers podem registrar esses nomes sugeridos e distribuir código malicioso para quem copia e cola exemplos da IA.
Resumindo: chegamos ao ponto em que empresas preferem arriscar ser hackeadas a ouvir um desenvolvedor dizer "esse prazo não é realista".
Mas aqui está o paradoxo que desmonta toda essa narrativa: enquanto influencers e futuristas de plantão anunciam o 'fim dos desenvolvedores', o mercado real está contando uma história completamente diferente. É hora de confrontar essa dissonância cognitiva. Realidade versus narrativa: o 'fim dos desenvolvedores' só existe na bolha
Realidade versus narrativa: o "fim dos desenvolvedores" só existe na bolha
A desconexão entre o que "viralizou" no LinkedIn e o que realmente acontece no mercado nunca foi tão grande. Estamos num momento em que muitos ingressam na área não por paixão pela tecnologia, mas atraídos pela promessa de salários altos com o menor esforço possível. Essa mentalidade cria o terreno fértil para acreditar em "soluções mágicas" e na narrativa do "fim dos desenvolvedores".
Esta não é a primeira vez que vemos esse tipo de previsão apocalíptica. Declarações recentes como a do CEO da AWS, Matt Garman, que "prenunciou o fim dos desenvolvedores" devido à IA são apenas o mais recente capítulo de um livro antigo. Antes disso, tivemos o "fim dos programadores COBOL", o "fim dos desenvolvedores Java", o "fim dos DBAs" e agora, o "fim dos CTOs".
Enquanto isso, o Fórum Econômico Mundial identifica que 23% dos empregos devem se transformar nos próximos anos devido à IA, mas a transformação não significa extinção - significa evolução. Sam Altman, CEO da OpenAI, reconhece que "muitos empregos vão desaparecer com a IA", mas também pontua que novos surgirão, como sempre aconteceu em revoluções tecnológicas anteriores.
Enquanto parte da internet celebra o "fim dos desenvolvedores", o mercado real mostra o oposto:
Conteúdo viral: "A IA substituirá programadores" Realidade: O Google está ampliando seu centro de engenharia em São Paulo, a NVIDIA segue contratando engenheiros em ritmo acelerado.
Conteúdo viral: "Só precisaremos de especialistas em prompt engineering" Realidade: Amazon e Apple mantêm centenas de vagas abertas para desenvolvedores.
Conteúdo viral: "A tecnologia está tão simples que não precisamos mais de especialistas" Realidade: A complexidade técnica só aumenta. O mercado de cibersegurança deve crescer de US$ 193 bi em 2024 para US$ 562 bi em 2032 (fonte), impulsionado justamente pela sofisticação dos riscos.
Mais irônico ainda: as maiores empresas de tecnologia do mundo estão promovendo CTOs e líderes técnicos para o comando:
Satya Nadella (Microsoft): De VP técnico para CEO
Sundar Pichai (Google): De líder técnico do Chrome para CEO
Jensen Huang (NVIDIA): Engenheiro fundador e CEO
Lisa Su (AMD): PhD em Engenharia Elétrica antes de se tornar CEO
Arvind Krishna (IBM): De líder de Cloud para CEO
Esses exemplos não são coincidências isoladas – são sinais claros de para onde o mercado realmente está se movendo, longe dos holofotes das tendências virais. Na verdade, o futuro pertence a quem entende a complexidade.
O futuro pertence a quem entende a complexidade
A divisão do mercado não será entre empresas que usam ou não IA, mas entre:
Organizações que tratam profissionais técnicos como estorvo, acreditando em soluções mágicas e vendo expertise como custo a eliminar.
Organizações que entendem que conhecimento técnico profundo é estratégico e insubstituível, e que valorizam quem realmente entende como a tecnologia funciona.
Enquanto as redes sociais celebram o "fim dos desenvolvedores", as empresas que dominam o mercado estão colocando líderes técnicos no comando e contratando mais engenheiros do que nunca.
Então, da próxima vez que você se sentir tratado como "estorvo técnico" por questionar soluções mágicas, lembre-se: não é que você seja dispensável – é que você representa uma verdade incômoda. E empresas que ignoram essa verdade o fazem por sua própria conta e risco.
A questão, portanto, não é se os profissionais técnicos sobreviverão à 'revolução da IA', mas quais organizações sobreviverão à tentação de substituir expertise real por promessas sedutoras de atalhos tecnológicos. E a resposta, como sempre na tecnologia, está na profundidade do conhecimento – não na superficialidade das tendências.
O futuro pertence aos que compreendem e abraçam a complexidade, aos que constroem e entregam valor real em vez de apenas seguir modismos. O que realmente faz a diferença não são as escolhas de tecnologia em si, mas a disposição para resolver problemas reais, aceitar desafios e criar soluções que impactam positivamente os negócios.
No final, as empresas que sobreviverão serão aquelas que entenderem que o verdadeiro valor está na conexão entre o conhecimento técnico profundo e os resultados de negócios – e não em prompts bem escritos ou ferramentas que prometem eliminar a necessidade de quem realmente entende como a tecnologia funciona.
sudo shutdown --reboot=monday
Esta newsletter está em constante desenvolvimento (always beta). Estou aprendendo a cada edição e seu feedback é essencial!
Compartilhe com outros devs que podem gostar e me conte o que achou:
O que você quer ver nas próximas edições?
Algum tema específico que devemos abordar?
Sugestões para melhorar o formato?
Todo pull request de ideias é bem-vindo!